Busca sem resultado
jusbrasil.com.br
20 de Abril de 2024
    Adicione tópicos

    Caso Bernardo: concluídos depoimentos da acusação em Três Passos

    Publicado por Âmbito Jurídico
    há 10 anos

    O Juízo de Três Passos ouviu hoje mais sete testemunhas arroladas pela acusação no processo criminal que apura a morte de Bernardo Uglione Boldrini. Com isso, o Juiz de Direito Marcos Luís Agostini, titular da ação, concluiu os 11 depoimentos previstos para ocorrerem nesta etapa na Comarca. Agora, segue a inquirição de testemunhas em outras cidades. Ao todo, o Ministério Público, autor da ação, arrolou 25 depoentes.

    A audiência começou em torno das 9h30min. Pela manhã, foram ouvidas quatro pessoas: duas funcionárias da escola onde Bernardo estudava e o casal que costumava ficar com o menino com frequência. Nenhuma dessas testemunhas quis depor na presença de Edelvânia Wirganovicz, única dos quatro réus que estava presente na audiência.

    Vida escolar

    A ex-professora de Bernardo, que também é mãe de um amigo dele, disse que o garoto costumava ficar na casa dela e que nem o pai, Leandro Boldrini, nem a madrasta, Graciele Ugulini, o procuravam. No dia em que soube do sumiço de Bernardo, a testemunha ligou sete vezes para o celular de Kelly - como era chamada a madrasta na intimidade - que disse que alguém deve ter pego esse guri. A testemunha também afirmou que a madrasta se mostrava calma e parecia não se preocupar com a situação.

    A mulher contou que foi professora do menino. A Promotora de Justiça perguntou como era o comportamento dele em sala de aula e a testemunha disse que Bernardo tinha problemas emocionais. Que ele era um aluno educado, amável e prestativo fora de aula, mas, dentro, era difícil de se concentrar, disperso. Ela contou que a escola era proibida por Leandro Boldrini de falar na mãe de Bernardo (Odilaine Uglione, que se suicidou em 2010).

    Relatou que o pai de Bernardo não se envolvia na vida escolar do filho. Disse que, em certa ocasião, Leandro falou que tinha sido criado na ponta do facão e que era assim que ele ia criar o filho dele. Já a madrasta, numa conversa, falou que o enteado era esquizofrênico e corria de facão atrás deles.

    A professora também disse que sabia que, muitas vezes, Bernardo tinha que fazer a própria comida. Ele se virava sozinho. E que o Conselho Tutelar esteve na escola para averiguar denúncias de maus tratos supostamente sofridas por Bernardo em casa.

    Em seguida, foi a vez da secretária da escola depor. Ela contou que conhecia Bernardo desde os três anos de idade. E que, quando a mãe dele estava viva, ela levava e buscava no colégio. Esse papel foi assumido pelo pai, com a morte dela, mas apenas por um tempo.

    A testemunha disse que, com frequência, dava carona para o menino ir à escola e, às vezes, o levava para almoçar. Ela relatou que Bernardo tinha o controle do portão de casa, mas que, às vezes, estava sem o aparelho. Na sexta-feira de manhã, dia do desaparecimento da criança, ele estava sem o controle. Mas a secretária da escola lembra que o menino estava feliz porque ia ganhar um aquário e que a madrasta ia levá-lo para fazer a compra. A testemunha estranhou o fato, porque Graciele não costumava se envolver na vida dele,

    Não soube falar como era o relacionamento com a madrasta porque esse era um assunto que Bernardo evitava comentar. Parecia que ele não gostava de chegar em casa, mas ele nunca disse o motivo. Só uma vez, na quinta-feira antes do desaparecimento, ele disse que ela era chata e que ela não gostava que ele tocasse o interfone de casa para não acordar a irmã caçula. Também confirmou que era comum Bernardo dormir fora de casa, nos colegas. E que pai e madrasta não eram presentes na vida escolar do menino. O garoto contou que, certo dia, encontrou o porta-retrato com a foto da mãe dele quebrado. E que ele queria levar para a casa da tia Ju (quem costumava cuidar dele) as fotos que ele tinha com a mãe.

    Bernardo amava incondicionalmente o paiSUm casal de ex-vizinhos dos Boldrini depôs em sequência. Eles conheceram a família quando Bernardo ainda era um bebê e Odilaine estava viva. Depois, a família de Leandro se mudou e o contato se perdeu. Em 2012, a convivência entre eles foi retomada e Bernardo passou a visitar bastante o casal.

    A mulher disse que, quando Bernardo ia para a casa dela, o pai ligava às vezes para saber como o filho estava e também retornava as ligações dele, mas não sempre.

    O menino não tinha roupas em condições de uso, por isso, andava sempre com o uniforme da escola. Usava até camisetas e calçados dela. Certo dia, foi levar Bernardo em casa para buscar roupas e ele não tinha chaves e nem havia ninguém para recebê-lo. Ele não se queixava, sempre achava uma desculpa.

    Disse que a madrasta não abria o portão para o garoto, mesmo ela estando em casa. E que, certa vez, Graciele fez janta para Leandro e não deixou Bernardo comer, segundo ele relatou.

    Outra situação mencionada pela testemunha foi quando Bernardo teve problemas no aparelho ortodôntico e Kelly teria dito: Ele que se vire, esse guri só me incomoda.

    No dia dos pais do ano passado, Bernardo ligou de manhã cedo, perguntando se ele poderia passar o dia com o casal porque o pai estaria de sobreaviso no trabalho e Kelly iria sair.

    Bernardo tinha celular, mas ficou um período sem o aparelho. Foi o marido da testemunha quem o ajudou a retomar o telefone, porque, às vezes, o garoto ficava na rua e podia ligar para eles a cobrar para que fossem buscá-lo.

    Ele não comentava como eram as coisas em casa. Mas percebiam que ele não tinha lanche e que costumava ficar sem almoço. Na quarta-feira, foi a última vez que a testemunha o viu. Ela deu dinheiro para ele comprar almoço.

    O menino perguntou para ela como fazia para falar com o juiz. Será que precisa de advogado? depois ele disse que foi ao Foro.

    O casal chegou a ser consultado pelo Conselho Tutelar sobre a possibilidade de ficar com a guarda provisória de Bernardo, e eles informaram que, se fossem esgotadas as possibilidades dentro da família do menino, aceitariam cuidar dele. Gostamos dele como um filho, relatou a depoente.

    Depois da audiência realizada no Foro, foi dado um prazo para que o relacionamento familiar melhorasse. Mas a testemunha disse que Bernardo continuou indo para a casa dos outros. Parece que tinha piorado a situação, ele passou a se queixar mais.

    Bernardo também disse à testemunha que o pai tinha mandado ele pedir desculpas para a madrasta e que ele seria levado em uma benzedeira. Ele concordou, afirmou a mulher.

    Era um guri fantástico. Obediente e carinhoso. Ele abria a porta do carro para mim, disse a depoente, ressaltando que a criança nunca demonstrou comportamento agressivo.

    Ao conversar com os advogados de defesa de Leandro, a testemunha disse que tinha apenas uma relação profissional com ele, que era um médico atencioso e disponível. Era um ótimo cirurgião.

    O marido dela foi a testemunha seguinte. Ele contou que, certa vez, impôs como condição para Bernardo ficar na casa deles que ele tivesse uma chave de casa o controle do portão. Segundo o depoente, isso funcionou algumas vezes, mas o menino continuava sem ter como entrar em casa em outras ocasiões.

    Ele também confirmou que Bernardo quase não tinha roupas e, muitas vezes, eram sujas. E que, por isso, ele estava sempre vestindo o uniforme da escola. O casal de amigos também comprava roupas para o menino. Disse que Bernardo não costumava comentar o que se passava dentro de casa. E, quando perguntado, desviava o assunto.

    O depoente costumava acompanhar os estudos do menino, que fazia os temas da escola na empresa do casal. Conseguimos salvar o ano, mas, forçando. Os professores ajudaram muito.

    Uma vez, o casal de amigos levou o menino na sorveteria, e ele disse que comeria mais uma bola de sorvete porque seria a sua última refeição do dia. Isso era em torno de 18h30min. Isso porque em casa não haveria janta. A maior alegria dele era ir com a gente no mercado, para poder comprar o que ele gostava.

    Leandro Boldrini mostrou ao depoente o vídeo gravado no celular dele, em que o menino aparece empunhando um facão. Isso é um atestado de mau pai, teria dito o homem a ele, na ocasião, o aconselhando a dar carinho para o filho. Segundo a testemunha, depois disso, pai e filho foram pescar e Bernardo estava radiante.

    A testemunha também lembrou da vez em que Leandro se acidentou de moto e Bernardo passou quase 15 dias na casa deles. Disse que Kelly separou roupas sujas e amassadas, sem capricho, para o menino levar.

    A testemunha definiu Bernardo como uma criança dócil, meiga e extremamente carinhosa. Bernardo amava incondicionalmente o pai dele, ressaltou.

    Sobre a avó materna, o depoente disse que o menino ficou muito feliz quando a visitou, uma vez que ele só teve contato com ela quando era pequeno e enquanto sua mãe era viva.

    Ex-babás

    Duas ex-babás de Bernardo também prestaram depoimento nesta tarde. A primeira, trabalhou na casa dos Boldrini quando o pai já era casado com Graciele.

    A testemunha relatou que o menino não sabia de que forma a mãe havia morrido e ficou sabendo do ocorrido através de Leandro e Graciele. Ela queria matar o meu pai e, como ela não conseguiu, se matou, disse o menino à babá.

    Ela contou que, quando foi trabalhar na casa, o relacionamento de Bernardo e da madrasta era tranquilo. As divergências vieram com o tempo e viraram brigas e ofensas verbais. Você não tem solução, você tem que ser internado, disse Kelly em certa ocasião. Para ver ele nervoso, a ponto de explodir, eles o contrariavam, afirmou a testemunha.

    A mulher não soube dizer se Bernardo apanhava do pai. Apenas que ele levava o menino para um cômodo da casa e Kelly dizia bem feito, ele tem que apanhar mais. Ele tem que ser educado, Um dia, o menino estava triste e perguntou à babá: Tu já sentiu saudades de alguém? Se tu sentiu, sabe o que tô sentindo hoje. Me abraçou e chorou. Eu posso te chamar de mãe?, relatou a testemunha.

    A ex-babá mencionou o dia em que Bernardo ganhou um tênis do pai e que o menino ficou muito feliz. O calçado era dois números maiores que o pé dele.

    Lembrou também da vez em que a mãe de Odilaine estava na cidade e Leandro Boldrini a orientou que não era para abrir o portão e nem deixar Bernardo brincar na rua.

    Sobre o patrão, a ex-babá disse que ele trabalhava bastante, afirmou acreditar que ele confiava nela para cuidar de Bernardo e que o tratamento conferido pelo médico a ela era normal. Assim como Graciele também.

    A mulher que cuidou de Bernardo na época em que a mãe dele ainda estava viva foi a sexta testemunha. Ela lembrou que ficou sabendo do desaparecimento do garoto no domingo de noite (dia 6/4/14) e que Leandro parecia nervoso com o sumiço do filho.

    Relatou também que o médico trabalhava muito, mas que sempre pedia que a babá cuidasse bem de Bernardo.

    Receituário

    A funcionária do consultório do pai de Bernardo foi a última a depor no Foro de Três Passos. Ela esclareceu que segue contratada, mas que a clínica está fechada. A mulher disse que tinha ordens de Kelly para expulsar Bernardo do local quando ele aparecesse por lá. E que chegou a ouvir da madrasta dizer que teria que dar fim nesse piá e que gente para isso não faltava.

    A testemunha afirmou que o relacionamento de Bernardo e Leandro era bom, desde que a madrasta não estivesse presente.

    A funcionária também chegou a ajudar Bernardo a fazer um trabalho da escola e o levou para passar um final de semana na casa dela. Sabia que o menino usava medicamentos e que ele mesmo cuidava do horário de tomá-los.

    Disse que todos os receituários da clínica eram controlados e os blocos ficavam com ela e com Leandro Boldrini. As receitas não ficavam assinados, mas apenas carimbadas. Quando o médico não conseguia preenchê-las, dava o receituário em branco para a funcionária. Relatou que Kelly tinha acesso a alguns medicamentos controlados, entre eles, o midazolan. Ela lembrou que Edelvânia foi ao consultório de Leandro, depois do desaparecimento de Bernardo (no dia 8/4/14) e que ela e Graciele conversaram reservadamente numa sala. O médico não estava presente.

    A funcionária descreveu o chefe como uma pessoa calma e tranquila, que nunca expressa o que sente.

    Defesas

    Por considerar que houve violação do art. 210 do Código de Processo Penal, a defesa de Graciele Ugulini se absteve de fazer perguntas às testemunhas. Argumentou também que, devido à presença de jornalistas e à divulgação do que foi relatado pelas testemunhas, o processo foi prejudicado. A manifestação foi ratificada pela defesa de Edelvânia Wirganovicz.

    O Juiz Marcos Agostini reiterou que a audiência é pública e o processo não tramita em segredo de justiça. Informou ainda que os veículos de comunicação têm responsabilidade pelas informações que repassam.

    O magistrado também negou o pedido de liberdade de Evandro Wirganovicz, por não vislumbrar nenhuma alteração do panorama identificado inicialmente. A instrução está e andamento e há várias testemunhas para serem ouvidas.

    Próximos passos

    Amanhã, na Comarca de Rodeio Bonito, a mãe de Edelvânia e Evandro Wirganovicz será ouvida. Será a terceira audiência realizada fora da Comarca (carta precatória).

    Depois que todas as testemunhas de acusação forem ouvidas, o Juiz Marcos Agostini marcará as datas para inquirição das testemunhas arroladas pelas defesas dos réus. Ao todo, está previsto o depoimento de 33 pessoas nessa etapa.

    • Publicações48958
    • Seguidores669
    Detalhes da publicação
    • Tipo do documentoNotícia
    • Visualizações1747
    De onde vêm as informações do Jusbrasil?
    Este conteúdo foi produzido e/ou disponibilizado por pessoas da Comunidade, que são responsáveis pelas respectivas opiniões. O Jusbrasil realiza a moderação do conteúdo de nossa Comunidade. Mesmo assim, caso entenda que o conteúdo deste artigo viole as Regras de Publicação, clique na opção "reportar" que o nosso time irá avaliar o relato e tomar as medidas cabíveis, se necessário. Conheça nossos Termos de uso e Regras de Publicação.
    Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/caso-bernardo-concluidos-depoimentos-da-acusacao-em-tres-passos/138386498

    Informações relacionadas

    Tribunal Superior Eleitoral
    Jurisprudênciahá 5 meses

    Tribunal Superior Eleitoral TSE: PC-PP XXXXX-52.2019.6.00.0000 BRASÍLIA - DF XXXXX

    0 Comentários

    Faça um comentário construtivo para esse documento.

    Não use muitas letras maiúsculas, isso denota "GRITAR" ;)